A União Européia embargou as importações de carne bovina brasileira. Embargou, criou regras e agora, depois de inspecionar algumas de nossas fazendas, reabriu seu mercado. Muito se falou a respeito deste assunto e o mesmo foi tratado de uma forma que parecia estarmos à beira de uma catástrofe sem precedentes.
Alguns proféticos chegaram a prever quedas importantes nos preços do produto no mercado interno, em função de uma verdadeira enxurrada de carne nos açougues. Outros, acreditaram que nossa liderança no mercado mundial estaria comprometida, desencadeando, quem sabe, uma reação em cadeia de embargos por todo o globo. Nada disso aconteceu: o preço do boi gordo continuou estável, continuamos a exportar por este mundo afora e o importador europeu já retornou às compras.
Na verdade, o mercado europeu não tem uma dimensão capaz de impactar a produção de carne bovina brasileira de maneira severa. A quantidade de carne anualmente exportada para a Europa representa algo em torno de 2% de nossa produção total. Afinal, abrigamos em nossas pastagens o maior rebanho comercial do planeta. É claro que gostaríamos de contar com o referido mercado em sua plenitude, pois se trata de um cliente que paga bem pelos principais cortes que adquire essencialmente carne de primeira, mas devemos nos lembrar que nosso grande cliente ainda é o consumidor brasileiro.
Outro fato importante é que o consumo mundial de carne está aumentando e o nosso produto é intensamente disputado por diversos países nos colocando em uma condição de negociação muito confortável diante do importador europeu. Sob esse cenário, a imposição de regras, especialmente a limitação quantitativa de fazendas aptas a fornecer-lhes bois rastreados, causou imensa indignação junto aos produtores.
Fazendo uma analogia com um fato que também gerou grande repercussão recentemente, poderíamos dizer que o embargo europeu à nossa carne tem um impacto tão grande na vida dos pecuaristas e da população brasileira quanto a renúncia do comandante cubano Fidel Castro: quase nenhum, limitando-se aos aspectos emblemáticos. É claro que, para alguns frigoríficos, a perda do mercado europeu pode ter um efeito negativo muito importante, o que justifica esforços pela sua recuperação. Contudo, com a manutenção daquela posição européia, o máximo que poderia acontecer para o brasileiro em geral seria um aumento de oferta no mercado interno de alguns cortes nobres de excelente qualidade, especialmente o filé mignon, que normalmente são exportados. Isto, óbvio, não faria mal nenhum, especialmente se esses filés fossem preparados à moda cubana, que é uma delícia.
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