domingo, 4 de julho de 2010

O Desenvolvimento que Buscamos


Tradicionalmente a avaliação do desenvolvimento de uma cidade, de uma região ou de um país tem sido feita através da mensuração da variação do PIB. Trata-se de um importante parâmetro para se aferir a condição econômica de qualquer comunidade, mas estabelecer metas ou elaborar conclusões levando-se em consideração apenas o crescimento econômico, não contempla a totalidade das demandas da sociedade contemporânea.
O crescimento da economia, do nível da industrialização e das rendas das pessoas são importantes maneiras de se buscar o desenvolvimento das populações, mas reduzirmos nossas metas ao crescimento destes itens e limitar nossas avaliações à suas variações não é suficiente. Muito mais do que limitar-se àquelas questões, o desenvolvimento deve ser capaz de expandir a liberdade humana e, sob a ótica restrita da mensuração da geração de riquezas, tal objetivo fica impossibilitado de ser avaliado.

A ampliação da liberdade pode ser implementada pela disponibilização de serviços públicos satisfatórios e assistência social eficiente, pois são tais condições que são capazes inclusive de libertar o ser humano de uma expectativa de vida reduzida sob o ponto de vista temporal. A garantia de direitos civis e a possibilidade de participação da vida social, política e econômica da comunidade também são manifestações das liberdades humanas que devem fazer parte tanto das metas quanto das mensurações relativas à aferição do nível de desenvolvimento de uma região ou população, pois pertencem a um conjunto de liberdades capazes de qualificar substancialmente a condição da vida humana. Além disso, as liberdades não devem ser entendidas apenas como os fins do desenvolvimento, mas também serem reconhecidas pela sua importância como promotoras de desenvolvimento, como sugere o economista Amartya Sen em seu livro “Desenvolvimento como Liberdade”.

Liberdades políticas promovem segurança institucional que garantem a proliferação dos essenciais investimentos estruturais. Serviços públicos qualificados potencializam a capacidade de participação econômica ao permitir que parte da renda bruta da população não seja destinada a complementar a ineficiência estatal. A liberdade econômica, além de gerar riqueza individual, pode ampliar a arrecadação pública qualificando seus serviços. O acesso à educação e à capacitação profissional habilita o cidadão a ampliar sua capacidade produtiva e o liberta das limitações impostas pelo seu despreparo educacional ou profissional, desencadeando um círculo virtuoso de desenvolvimento eliminando paulatinamente a pobreza econômica que priva as pessoas do direito de obter sua nutrição básica, de ter moradia digna, de acessar a assistência médica, além de consumir água tratada e desfrutar de saneamento básico.

Diante do atual cenário mundial repleto de mensurações estritamente econômicas, precisamos estar atentos e nos utilizarmos de outros mecanismos de verificação da condição da população, tanto para avaliarmos precisamente o impacto causado pela crise econômica mundial em toda sua abrangência, quanto para elaborarmos estratégias de atuação, definirmos metas e, principalmente, elegermos prioridades adequadamente. A busca pelo desenvolvimento, mais do que nunca, deve ser um processo amplo, com metas econômicas, mas também voltado à expansão das liberdades, dirigindo a atenção para os fins que o justificam, pois, desta forma, além de aumentarmos a qualidade dos resultados, estaremos permanentemente alimentando os meios que o viabilizam.

5 comentários:

  1. O raciocínio tem muito do economista indiano Amartya Sen. Vale a pena ler o livro Desenvolvimento como Liberdade de sua autoria. A leitura não flui fácil,mas vale à pena.

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  2. Qualquer forma ou fórmula de avaliação do desenvolvimento de determinada região, jamais poderá ser levada a sério sem que se coloque o devido peso na questão EDUCACIONAL. A EDUCAÇÃO é a chave mestra da tão sonhada libertação das diversas formas de dominação existentes em qualquer regime político, seja ele democrático ou não. Não há que se falar em desenvolvimento verdadeiro dissociando o conhecimento, o saber, das práticas adotadas pela comunidade, ao custo de se ter frente aos olhos a distribuição equivocada e perversa dos bens produzidos. O conhecimento liberta o espírito humano e conduz ao entendimento da realidade não mais sob um foco, mas num prisma multifacetado.

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  3. ô delegado, é o entendimento da realidade que leva ao conhecimento e não o contrário.E que história é essa de "...regime político, seja ele democrático ou não."
    Kireeff, os socialistas estão por aqui, acorda e afaste-se deles.

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  4. O comentário sobre regime político é abrangente, não se refere ao Brasil, mas sim ao mundo inteiro, pois a questão tratada é de caráter mundial. Quanto ao entendimento da realidade, posso afirmar que o conhecimento é essencial suporte ao entendimento. Não se pode supor, por exemplo, que se entenda e discorra sobre economia, pela simples e pacata dedução que os preços dos hortifruti aumentam de acordo com a estação das chuvas... passa muito mais além que isso e para entender é necessário ter o suporte do conhecimento de outros fatores, inclusive político. De fato, o conhecimento é uma ferramenta para o entendimento.
    Quanto a se afastar dos socialistas, primeiro precisa dizer o que achas que são os tais socialistas e por que é preciso ter medo deles, aliás o medo só é providencial para aqueles que não se atrevem ao conhecimento.

    Rogerio Varela

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