Modelo esgotado?
Infelizmente, em algumas regiões este modelo parece ter se esgotado, pois a produtividade encontra-se estagnada desde a década de noventa. Lençóis freáticos reduzidos pela excessiva utilização da irrigação, assim como a salinização de áreas de cultivo sugerem que o modelo pode ter limitações de sustentabilidade a médio prazo. Além disso, este modelo criou ao redor do mundo uma evidente dependência dos agricultores junto aos fornecedores de fertilizantes químicos e pesticidas que invariavelmente avançaram na participação da renda da produção agropecuária: como resultado, o fenômeno do endividamento agrícola é tão comum no Brasil quanto na Índia. Muitos acreditam que a reversão deste possível esgotamento do referido modelo agrícola esteja no aperfeiçoamento do pacote tecnológico atual com a evolução da utilização da ciência genética, a transgenia, e o aprimoramento nos mecanismos de irrigação. Entretanto, a engenharia genética atual ainda não conseguiu concretizar, por exemplo, a libertação de nossa agricultura da grande dependência hídrica natural ou irrigada e dos fertilizantes químicos.
Agorecologia
Ao longo dos últimos seis anos, cerca de quatrocentos especialistas liderados pela FAO estudaram a crise mundial de alimentos e chegaram à conclusão de que o aumento na produção agrícola nos últimos trinta anos, que de fato ocorreu, falhou em melhorar o acesso aos alimentos pelas populações pobres do planeta. Como conseqüência, o estudo sugeriu uma mudança na forma de se praticar a agricultura, incorporando-se práticas sustentáveis e ecologicamente comprometidas, beneficiando pequenos agricultores, cerca de 900 milhões ao redor do mundo, não se limitando à agricultura empresarial. Pode-se chamar isto de Agroecologia, uma agricultura que leva em consideração não apenas a produtividade, mas também o impacto ambiental e social. Argumenta-se que cultivos em pequena escala e a diversificação de culturas seriam capazes de produzir mais alimentos e com muito menos exigência de adubos químicos, especialmente os derivados do petróleo. Estes seriam substituídos paulatinamente pelo uso da compostagem, aumentando a matéria orgânica no solo e capturando carbono da atmosfera, colaborando no combate às alterações climáticas.
Produção sustentável
É muito provável que não haja nenhum tipo de conflito entre a agricultura empresarial e a agroecologia como estratégias de enfrentamento ao desafio de se ampliar a produção de alimentos. Aliás, o crescimento da população necessariamente exigirá que de uma maneira, de outra, ou ainda, de forma associada, novos recordes de produção sejam alcançados. Mas é evidente que a disponibilidade de recursos naturais é finita e o princípio da sustentabilidade necessariamente deverá ser cada vez mais aplicado em qualquer prática agrícola. A preservação de nossos recursos hídricos através de sua utilização racional e a busca por tecnologias que diminuam a dependência por fertilizantes químicos, especialmente os derivados de combustíveis fósseis, necessariamente farão parte da agricultura contemporânea assim como a conscientização de que população, produção e exploração não poderão continuar a crescer indefinidamente. Evoluindo nossas práticas agrícolas, incorporando novas tecnologias e, de forma definitiva, o conceito da sustentabilidade, certamente poderemos relegar ao esquecimento por mais alguns séculos a famosa profecia, também conhecida como a “Maldição Malthusiana”.
.Alexandre Kireeff, com informações da National Geographic
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