quarta-feira, 19 de maio de 2010

Vamos consumir trigo importado, mais ainda.

Era esperado e está se confirmando: este ano diminuirá a área de trigo plantada e, portanto, vamos ter que importar mais trigo ainda. Previsível.Ano passado, já discutíamos esta questão em um grande seminário realizado na Sociedade Rural do Paraná. Seminário de altíssimo nível, com brilhantes participações de quem entende do assunto. Segue abaixo, partes de um editorial do Jornal da Rural que já apontava um ano atrás a necessidade de uma política contundente para a produção de trigo brasileira.

Farinha importada

"Grande parte do pão que consumimos é produzida a partir de farinha feita de trigo importado. Normalmente, compramos o trigo ou sua farinha da Argentina porque o Brasil consome dez milhões e meio de toneladas do grão, mas só produz seis milhões de toneladas. Mais da metade dessa tonelagem já é produzida aqui no Paraná e talvez seja o momento de buscarmos não apenas o aumento de nossa produção, mas auto-suficiência.

Quebra da safra argentina em 2009

Tal reflexão surge em função da surpreendente quebra da safra argentina em cerca de 50% e, mesmo considerando a garantia de fornecimento por nossos vizinhos do Mercosul e a possibilidade de importarmos o grão de outros países, não resta dúvida que podemos experimentar a sensação desconfortável da perspectiva do desabastecimento e da dependência de um fornecedor estrangeiro.

Auto-suficiência

Até hoje, nossa auto-suficiência jamais foi alcançada pela dificuldade em produzirmos o cereal a preços internacionalmente competitivos. Isto se deve porque nosso clima não é exatamente o mais adequado e também porque o mercado conta com fornecedores altamente subsidiados, especialmente os do hemisfério norte.

Intervencionismo

Aliás, historicamente a cultura do trigo tem sido objeto de políticas intervencionistas. Subsídios tanto à exportação quanto à produção do trigo sempre fizeram parte da política agrícola de muitos países preocupados em garantir sua independência alimentar sob qualquer circunstância.

Na Inglaterra


Na Inglaterra do séc.XVI, esta obsessão pela auto-suficiência incluía tanto subsidio a exportação,
em um evidente estímulo à produção nacional, quanto a proibição radical de se comprar trigo para fins de revenda, como uma tentativa de se evitar a especulação em torno do alimento básico da população inglesa.

Infrações

O eventual atravessador flagrado era, vejam só, condenado a dois meses de prisão em uma primeira infração, há seis meses em caso de reincidência e condenado ao pelourinho e preso por tempo indeterminado, com confisco de todos os seus bens em caso de uma terceira infração. Tudo isso como estratégia para se garantir que o pão chegasse sempre aos lares da Grã Bretanha.

Hoje,no Brasil

Nos dias de hoje, para atingirmos a auto-suficiência na produção do trigo não resta dúvida de que também precisaremos de políticas específicas, evidentemente adaptadas aos nossos tempos. Certamente podemos abrir mão do pelourinho.

Algumas ações

Neste sentido, algumas iniciativas absolutamente contemporâneas já estão sendo tomadas tanto pelo governo paranaense quanto pelo governo federal. O Governo do Paraná, por exemplo, irá destinar recursos do Fundo de Desenvolvimento Econômico para complementar o custeio do seguro da cultura na ordem de 15 a 30 % do valor total. Estes percentuais, somados aos 70% já provenientes do governo federal, podem garantir o custeio total do seguro agrícola do trigo.

Estímulo

Tal medida certamente estimula o plantio de trigo em nosso estado, pois, segurado, o produtor não estará sujeito a um revés financeiro se houver quebra na produção por adversidade climática. Na mesma esteira, o governo federal tem sinalizado que pretende estimular o plantio do trigo ao anunciar preços mínimos adequados e especialmente quando, mesmo diante do atual cenário, optou por manter a TEC do trigo , evitando uma inconveniente queda nos preços.

Pouco para a auto-suficiência

Entretanto, isto ainda não é o suficiente e é por isso que produzimos apenas um pouco mais da metade de nosso consumo.Para atingirmos a auto-suficiência necessitamos de um plano abrangente, amparado na decisão política de construirmos nossa independência, que inclua não apenas o apoio e proteção à produção e a comercialização, mas que também inclua o essencial investimento em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias.

Medidas

Necessitamos de um conjunto de medidas que sejam capazes de tornar o Brasil absolutamente imune às quebras de safra da Argentina ou de qualquer outro país e, isto é importante, internacionalmente competitivo a médio prazo.

Preços poderiam subir no início...

É claro que ao menos por enquanto poderá se dizer que uma política de incentivo à produção do trigo poderá encarecer o produto internamente, o que seria indesejável. Entretanto, a independência neste caso deve ser vista como uma decisão estratégica, tal qual aquela tomada quando se criou o pró-alcool ou quando se optou por investimentos na prospecção do petróleo ao invés de simplesmente adquirirmos gasolina no mercado internacional, mesmo quando os preços eram convidativos.

Matriz energética

Hoje, nossa matriz energética é a mais limpa do mundo e em breve, pasmem, o petróleo que será extraído no “Pré Sal” nos tornará não apenas totalmente independentes da importação do petróleo, mas também grandes exportadores o que justifica plenamente a opção estratégica em detrimento da decisão simplesmente analisada pelo ponto de vista econômico.

Decisão estratégica


A decisão que podemos tomar é novamente estratégica. Um amplo debate envolvendo produtores, técnicos, pesquisadores e os Governos Estadual e Federal certamente poderá construir as bases de um plano que tenha como objetivo tornar a produção de trigo brasileira, e em especial a paranaense, capaz de abastecer totalmente o mercado interno em um curto espaço de tempo.

Paozinho argentino ou brasileiro?

Aí então, faça chuva ou faça sol, na Argentina ou em qualquer outro país, passaremos a consumir o verdadeiro pãozinho verde e amarelo, tupiniquim, e não mais o pão de los hermanos, feito de trigo importado do país vizinho. "

O que aconteceu

O texto acima, foi escrito ainda no decorrer da safra. O que aconteceu é que a safra passada quebrou, o seguro agrícola demonstrou estar inapto a garantir a perda da qualidade e os produtores, sujeitos às mesmíssimas condições daquelas do ano passado diminuíram sua coragem em plantar trigo esse ano. Resultado, vamos importar mais trigo ainda...

Um comentário:

  1. Vale a pena plantar trigo nesta temporada?
    Esta é a pergunta mais importante que o setor está fazendo neste momento. Veja os prós e os contras antes de tomar a sua decisão


    Uma das questões mais cruciantes dos agricultores neste momento é a tomada de decisão sobre se devem ou não plantar, diminuir ou aumentar a área de trigo nesta temporada. O Paraná já plantou 50% da área prevista e o tempo ideal para completar o plantio se esgota em junho; no Rio Grande do Sul, onde o plantio está apenas começando agora, se esgota em julho. Ainda há, portanto, tempo para se tomar decisão a respeito do tamanho da área a ser plantada.
    Segundo Luiz Carlos Pacheco, diretor da Fênix Consultoria, que participou como palestrante no 5º Fórum Nacional do Trigo na cidade de Erechim-RS, há uma grande possibilidade de que quem plantar trigo nesta safa de 2010/11 obtenha dois êxitos raros de acontecer: uma produtividade maior do que na última safra e preços levemente superiores. Estas conclusões são baseadas em fatos concretos. Segundo relatório do Departamento de Meteorologia da Austrália, que monitora a formação do clima no Pacífico, o efeito El Niño foi considerado extinto na semana passada e, portanto, não deverão ocorrer, salvo eventos imprevistos, as intempéries que afetaram as lavouras na safra passada, de 2009/10 em toda a América do Sul. Na Argentina, por exemplo, é considerado ideal para o plantio de trigo o solo que acumula 150 mm de água a 2 metros de profundidade e, neste ano, este acúmulo está com 200 mm, motivo pelo qual os argentinos deverão aumentar em 1 milhão de hectares a sua área plantada.
    O segundo fator favorável para o plantio de trigo é justamente o fato de que todas as Secretarias Estaduais dos principais estados produtores, RS, PR e SP, preverem redução de área entre 12% e 20%, devido ao desestímulo dos agricultores diante dos preços atuais e das perdas climáticas da safra passada. “Ora, se diminuir a área plantada diminuirá a produção e diminuindo a produção os preços tendem a melhorar um pouco”, afirmou Pacheco. “Os baixos níveis de preços do trigo nacional na atual temporada não se devem aos altos estoques mundiais, mas à má qualidade do grão colhido; não falta nem faltará demanda e preços para os grãos bons do tipo pão, porque produzimos apenas da metade do que se consome no Brasil. É a simples lei de mercado”, conclui.
    Pacheco também contesta os que afirmam que os preços internacionais estão puxando para baixo os preços do trigo nacional, devido aos altos estoques mundiais. “Os estoques estão realmente altos, mas, mesmo assim, os preços dos trigos importados estão entre 13,75% e 23,45% mais altos do que os do trigo nacional e este é justamente o espaço que o trigo nacional tem para crescer”, afirma Pacheco. “O preço do trigo está igual em todo o mundo, ao redor de US$ 200/tonelada, com exceção da Argentina que está pedindo US$ 240/tonelada. O que torna o trigo importado mais caro não é o preço em si, mas o preço dos fretes marítimos, que dobraram nos últimos 6 meses, atuando como uma blindagem entre os preços dos trigos importados e os preços do trigo nacional” conclui o Diretor da Fênix Consultoria.
    Portanto, segundo o analista Luiz Carlos Pacheco, é possível que os preços e a produtividade da safra de trigo de 2010/11 sejam levemente melhores do que foram no ano passado, embora não haja nenhuma garantia de que isto realmente ocorra.

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