Ao dirigir-se ao Congresso Americano em discurso formal, pela primeira vez após eleito, o presidente americano pôde ser, muito mais do que em seu discurso de posse, explícito quanto a suas intenções. Revelou parte do seu planejamento, relembrou a todos as dificuldades que enfrentará, especialmente sob o ponto de vista orçamentário, e surpreendeu-nos ao, inserir em suas colocações sua pretensão em diminuir os subsídios agrícolas. Surpresa à parte, também desconsiderando a dimensão dos cortes propostos, até porque o próprio Ministério da Agricultura brasileiro os classificou como tímidos, não podemos deixar de conectar este fato a um outro impasse histórico que, pela aparente impossibilidade de ser solucionado, guardava alguma similaridade com este novo posicionamento americano quanto à sua política agrícola.
Durante a década de oitenta, o mundo vivia a plenitude da tensão promovida pela guerra fria e a corrida armamentista travada entre os Estados Unidos e a antiga União Soviética. A contabilidade que se praticava apenas buscava prever quantas vezes o arsenal atômico armazenado seria capaz de destruir a própria terra! É isso mesmo, se hoje a humanidade teme ser varrida do planeta pelo aquecimento global, há vinte e cinco ou trinta anos acreditávamos em uma iminente guerra nuclear de escala mundial que resultaria em nossa própria extinção: sobreviveriam apenas as baratas, segundo a crença popular...
Àquela altura, o então presidente Ronald Reagan apresentou ao Congresso Americano um fantástico escudo militar espacial que ficou conhecido como “Guerra nas Estrelas”. Tal escudo, uma série de satélites armados com mísseis capazes de destruir ainda em vôo qualquer ogiva nuclear que fosse lançada contra os Estados Unidos, tornaria aquele país virtualmente inatingível. E foi praticamente em ato contínuo que se desenrolou o fim da corrida armamentista, o desmanche da União Soviética e iniciou-se um período de absoluta hegemonia mundial americana. O detalhe que pode passar despercebido e que conecta tal fato histórico à realidade contemporânea é que jamais faltou vontade ao líder soviético Gorbachev em continuar disputando com os americanos a liderança militar mundial: o que lhe faltou foi dinheiro, orçamento.
É exatamente isso que impele o Governo Obama a acenar com um corte dos subsídios agrícolas: falta de dinheiro, orçamento. Claro, não podemos fazer nenhuma comparação sob o ponto de vista de importância econômica ou política entre a “Guerra Fria” e as divergências entre o Brasil e os Estados Unidos quanto à política agrícola. A analogia, a similaridade, se resume ao fato desencadeador. Por maiores que tivessem sido os esforços diplomáticos, por mais acalorados que tivessem sido os debates relativos à corrida armamentista, o que determinou seus rumos definitivos foi a incapacidade econômica soviética em continuar a investir em projetos da dimensão de um escudo de satélites militares. Atualmente, diante do gigantesco desafio econômico que se encontra o governo americano, este optou por uma série de iniciativas com o objetivo de construir um orçamento mais enxuto o que incluiu o bem-vindo corte nos subsídios agrícolas.
O presidente Barak Obama afirmou que sua nova política agrícola se iniciará a partir de outubro. Inevitavelmente a agricultura brasileira se beneficiará na exata proporção com que os cortes americanos sejam de fato implementados. Não é hora de comemorarmos, mas de aguardarmos os acontecimentos e nos prepararmos. O que não poderá faltar serão os recursos para esta colheita e para o próximo plano de safra brasileiro . Assim, estaremos preparados para nos tornarmos ainda mais competitivos no disputado mercado agropecuário mundial sem nunca nos esquecermos que, sob condição econômica favorável, os Estados Unidos jamais abriram mão de subsidiar seus agricultores...
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