Tradicionalmente a avaliação do desenvolvimento de uma cidade, de uma região ou de um país tem sido feita através da mensuração da variação do PIB. Trata-se de um importante parâmetro para se aferir a condição econômica de qualquer comunidade, mas estabelecer metas ou elaborar conclusões levando-se em consideração apenas o crescimento econômico, não contempla a totalidade das demandas da sociedade contemporânea. O crescimento da economia, do nível da industrialização e das rendas das pessoas são importantes maneiras de se buscar o desenvolvimento das populações, mas reduzirmos nossas metas ao crescimento destes itens e limitar nossas avaliações à suas variações não é suficiente.
Muito mais do que limitar-se àquelas questões, o desenvolvimento deve ser capaz de expandir a liberdade humana e, sob a ótica restrita da mensuração da geração de riquezas, tal objetivo fica impossibilitado de ser avaliado. A ampliação da liberdade pode ser implementada pela disponibilização de serviços públicos satisfatórios e assistência social eficiente, pois são tais condições que são capazes inclusive de libertar o ser humano de uma expectativa de vida reduzida sob o ponto de vista temporal. A garantia de direitos civis e a possibilidade de participação da vida social, política e econômica da comunidade também são manifestações das liberdades humanas que devem fazer parte tanto das metas quanto das mensurações relativas à aferição do nível de desenvolvimento de uma região ou população, pois pertencem a um conjunto de liberdades capazes de qualificar substancialmente a condição da vida humana.
Além disso, as liberdades não devem ser entendidas apenas como os fins do desenvolvimento, mas também serem reconhecidas pela sua importância como promotoras de desenvolvimento, como sugere o economista Amartya Sem em seu livro “Desenvolvimento como Liberdade”. Liberdades políticas promovem segurança institucional que garantem a proliferação dos essenciais investimentos estruturais. Serviços públicos qualificados potencializam a capacidade de participação econômica ao permitir que parte da renda bruta da população não seja destinada a complementar a ineficiência estatal. A liberdade econômica, além de gerar riqueza individual, pode ampliar a arrecadação pública qualificando seus serviços. O acesso à educação e à capacitação profissional habilita o cidadão a ampliar sua capacidade produtiva e o liberta das limitações impostas pelo seu despreparo educacional ou profissional, desencadeando um círculo virtuoso de desenvolvimento eliminando paulatinamente a pobreza econômica que priva as pessoas do direito de obter sua nutrição básica, de ter moradia digna, de acessar a assistência médica, além de consumir água tratada e desfrutar de saneamento básico.
Diante do atual cenário mundial repleto de mensurações estritamente econômicas negativas, precisamos estar atentos e nos utilizarmos de outros mecanismos de verificação da condição da população, tanto para avaliarmos precisamente o impacto causado pela situação econômica mundial em toda sua abrangência, quanto para elaborarmos estratégias de atuação, definirmos metas e, principalmente, elegermos prioridades adequadamente. A busca pelo desenvolvimento, mais do que nunca, deve ser um processo amplo, com metas econômicas, mas também voltado à expansão das liberdades, dirigindo a atenção para os fins que o justificam, pois, desta forma, além de aumentarmos a qualidade dos resultados, estaremos permanentemente alimentando os meios que o viabilizam.
Nenhum comentário:
Postar um comentário