segunda-feira, 3 de maio de 2010

Santos e Fantasmas


Fui ao Pacaembu assistir à final do Paulistão entre Santos e Santo André. Consegui comprar ingressos para as numeradas cobertas, coisa de primeira, e foi lá que conheci um senhor muito simpático que sentou-se ao meu lado.

Cordialidade
Cordialmente, conversamos bastante antes do jogo começar e, confesso, sua figura formal, de suspensórios, fazia-me lembrar Adoniran Barbosa , apesar do sotaque carioca carregado.

Grã-fina
Durante o jogo quase não conversamos, ouvi sua voz apenas quando, aos trinta segundos, o Santo André fez seu primeiro gol. Imediatamente ouvimos um grito agudo vindo das sociais. Ele rapidamente a identificou: "é a grã-fina de narinas de cadáver...".Antes do final do jogo trocamos cartões e olha só o que recebi em meu e-mail:

"Caro amigo...
Ontem fui ao Coliseu. Romanos de todas as classes se empoleiravam para ver o sangue que esperavam que jorrasse com fartura assim que a luta começasse. De um lado, o mais eficiente de todos os gladiadores. Aquele que todos sabiam ser o maior artista do ritual da morte, impondo a seus adversários não apenas a pena capital, mas também a humilhação implacável da mutilação paulatina de cada membro até que, totalmente subjugado, seu adversário fosse vítima do golpe fatal. Do outro lado, apenas um adversário, escolhido para morrer com dor e sofrimento naquele circo romano.

Mas não foi o que se sucedeu. Contra o ídolo de todo Império Romano,sob a descrença dos
90 000 presentes, o frágil condenado insurgiu-se e, ainda no início da mais épica de todas as lutas que aquela arena jamais havia assistido desde os tempos do imperador Tito, desferiu pesado golpe no campeão.

Das alturas do portici popular ao pulvinar imperial, estabeleceu-se o silêncio sepulcral. E então desenrolou-se a épica luta entre o maior de todos os campeões e o gladiador indefeso, como que atirado às feras, mas que desferia golpes dignos de Espártaco e não de um pobre cristão condenado. A plateia contorcia-se espasmódica a cada golpe desferido entre os combatentes e mesmo os pagãos se ajoelharam invocando a um Deus que não lhes pertencia para que seu herói saísse vencedor daquela batalha histórica.

Ocorreu, então, o acontecimento mais espetacular jamais visto em terras romanas. Quando praticamente batido nosso gladiador entregou seu peito ao golpe final , surge o Sobrenatural de Almeida e desvia caprichosamente a adaga para a coluna em que se apoiava nosso gladiador, impedindo que a lógica se invertesse, consagrando o herói romano como campeão supremo.

O Coliseu explodiu em alegria.A plebe se abraçou como se houvesse ela própria se salvado da decapitação. Os senadores presentes choraram enquanto suas mulheres insistiam atônitas em perguntar: "Quem é a bola? Quem é a bola?". Cristãos e seus carrascos comemoraram nas profundezas dos subterrâneos do estádio esquecendo-se que em breve um atiraria o outro às feras.

E foi assim que terminou a maior de todas as lutas. A baba elástica e bovina escorria da boca de nosso herói completamente desfigurado, ensanguentado e trôpego. Seu adversário, mesmo que íntegro fisicamente, foi sumariamente julgado pelo Imperador que não o perdoou por ter perdido a grande oportunidade em seu derradeiro golpe, o de misericórdia, nos últimos instantes, sendo então levado aos calabouços daquele Coliseu para o esquecimento impiedoso que a história confere aos derrotados"
N.R.

Um comentário:

  1. Se tá de brincadeira,não é?Vc recebeu mesmo esse e-mail?

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