quarta-feira, 15 de julho de 2009

Discurso no Lançamento do Plano Agrícola Pecuário



Há poucos dias a FAO, Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação, anunciou que este ano a humanidade superará a marca de um bilhão de desnutridos. Também já é sabido que em sete dos últimos nove anos, o consumo global de cereais superou os números da produção.

Estes são os desafios da agropecuária, em especial da agropecuária brasileira: continuar ampliando a produção de alimentos, viabilizando o abastecimento desta população cada vez maior : já somos sete bilhões hoje e em breve seremos nove bilhões de pessoas. Aliás, o enfrentamento da fome é uma questão tão antiga e importante que a palavra população na linguagem da milenar civilização chinesa é escrita através de dois ideogramas: um que significa “pessoa” e um segundo , que significa “boca aberta”...

Sob essa ótica, um plano de safra não pode ser reduzido a um simples plano desenvolvido para atender a um setor específico da atividade econômica brasileira: deve ser inserido em uma ampla estratégia comprometida com o amparo à própria existência humana.

Temos observado a cada apresentação anual, a contínua evolução de nossa política agrícola. Este ano, destaca-se a ampliação em quase 40% de seu orçamento geral, atingindo os 107, 5 bilhões de reais sendo 15 destes destinados exclusivamente à agricultura familiar. Uma manifestação evidente do entendimento do Ministro do Planejamento Paulo Bernardo de que a agropecuária é uma excelente frente de combate à crise internacional.

O incentivo inédito ao médio produtor, criando a obrigatoriedade de destinação de recursos à classe média Rural, também se trata de um importante avanço. Além disso, a destinação de recursos à recuperação de solos e a ampliação de limites de financiamento em função da adequação ambiental incorporam uma nova e importante estratégia à política agrícola nacional .

O Ministro da Agricultura Reinhold Stephanes desde o primeiro momento tem sido especialmente preciso no entendimento das principais demandas do setor e tem se mostrado sempre pronto a debater, discutir e construir soluções , merecendo nossas congratulações pela trajetória acertada a qual tem conduzido nossa política agrícola.

Nossa expectativa, senhor ministro, é que este volume de crédito recorde tenha agora sua tramitação burocrática junto ao sistema financeiro devidamente sincronizada com o calendário do agricultor brasileiro para que este possa usufruir em toda plenitude destes recursos e, de maneira também recorde, possamos produzir a nova safra .

Existe também, senhor ministro, uma importante parcela de produtores que renegociaram suas dívidas, dívidas produzidas por quebras de safras e pela abrupta modificação das relações cambiais entre o dólar e o Real ocorrida há alguns anos.

Estes produtores ainda necessitam de uma atenção específica governamental para que possam ser reincorporados ao sistema de crédito agrícola e, assim, voltarem a colaborar no enfrentamento do desafio de abastecer o mundo de alimentos.

Estas duas providências, e temos conhecimento de que já são objeto das atenções do governo federal, são fundamentais para que o volume de crédito disponibilizado no Plano Agrícola 2009/2010 esteja disponível a todo o universo de produtores brasileiros e assim, este plano possa atingir na plenitude os objetivos a que se propõe.


Senhor presidente,

Recentemente pudemos ver através da imprensa sua excelência, declarar que “quem desmatou não pode ser chamado de bandido”. Entendemos perfeitamente o contexto de suas declarações, distinguindo aquele produtor que legalmente enfrentou o desafio de expandir a fronteira agrícola brasileira, do devastador ilegal. Neste recinto, tenho certeza absoluta de que a grande maioria destes produtores jamais desmatou um palmo sequer de nossas florestas.

Pelo contrário, esses produtores tem passado suas vidas levantando curvas de nível, praticando a tríplice lavagem de embalagens, a adubação verde, a rotação de cultura, a integração lavoura e pecuária e incorporado técnicas como a do plantio direto desenvolvida pelo nosso amigo Herbert Bartz. Mesmo assim, se nada for feito, à partir do dia 11 de Dezembro deste ano, muitos destes produtores serão considerados legalmente criminosos ...e isto não é justo .

Tenha certeza, senhor presidente, de que quando produtores, e eu falo especificamente dos produtores, reivindicamos aprimoramentos em nossa legislação ambiental, é exatamente isso que fazemos e nada além disso, não havendo nenhuma expectativa de se ampliar a tolerância ao desmatamento.

Senhor presidente, os produtores deste país foram capazes de transformar o Brasil no grande celeiro mundial produzindo não apenas alimento, mas também riquezas, emprego e sustentação econômica ao País.

Também foi no campo que se construiu a fantástica indústria do álcool, exemplo mundial de produção de bioenergia sustentável. Temos certeza de que somos capazes também de produzirmos até mesmo preservação, bastando para isso que tal prática seja, além de ambiental, também economicamente sustentável.

Para que isso seja possível, precisamos neste momento, da harmonização presidencial em um debate onde os argumentos já se esgotaram para que possamos, como nação preservarmos nossa produção e iniciarmos um novo período de produção de preservação, com apoio a quem produz, com incentivo a quem preserva.

Finalmente, nossos agradecimentos a sua excelência presidente Lula por ter escolhido Londrina como endereço para este que é sem dúvida alguma a mais importante data do calendário da agropecuária brasileira. A Londrina capital mundial do café, da Embrapa Soja, do Instituto Agronômico do Paraná e da Sociedade Rural do Paraná se sente especialmente honrada por esta deferência.

Aos produtores aqui presentes, tenham certeza de que foi uma honra representá-los neste evento nacional tão importante.

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